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Você nunca me ouve

Atualizado: 30 de ago.


“Você nunca me ouve” é uma daquelas frases que emergem quando nos sentimos invisíveis dentro de uma relação. Mas o tom com que dizemos (ou ouvimos) essa frase pode mudar tudo. A mesma sequência de palavras pode soar como um pedido de ajuda, uma acusação violenta ou um convite à reconexão. E isso depende diretamente do estado do nosso sistema nervoso.


Assistindo o vídeo acima, observe como o tom de voz e a expressão trazem significações diferentes no diálogo:

 

O que a primeira fala faz você sentir? Para mim é como a denúncia de um silêncio desesperançado. Esse tom é usado quando se está no estado do sistema nervoso vago dorsal, quando o corpo está em colapso: ombros caídos, voz fraca ou ausente, olhos baixos. A fala é lenta, abafada, talvez até sussurrada. O sistema nervoso entende que não adianta mais lutar ou fugir, e entra em congelamento. Diz-se “Você nunca me ouve” como quem já desistiu de tentar. Quem fala tem a sensação de que nada do que se diga vai mudar a realidade, então fala-se sem esperar resposta, sem esperar nada. Quem ouve sem "escutar", não sente estímulo para o diálogo. Essa frase, nesse tom, carrega o peso do abandono. O relacionamento vai ficando por um fio.

 

Na segunda prosódia, o tom me leva a sentir na voz uma certa acusação ou um clamor. Esse tom é usado quando se está no estado simpático do sistema nervoso, onde o corpo está ativado para lutar ou fugir. O sistema nervoso entende que há perigo na desconexão e tenta restabelecer o controle. “Você nunca me ouve” sai com voz alta, cortante, olhos em alerta. Pode parecer raiva, mas muitas vezes é medo disfarçado. A frase vira ataque ou grito de socorro. Muitas vezes, quem ouve se fecha ou devolve na mesma moeda. A comunicação se torna guerra. Nesse estado, é difícil escutar ou ser escutado, porque ambos estão tentando sobreviver emocionalmente.

 

E a última simulação me soa como um convite à presença. O tom é regulado e conectado de quem está no estado do sistema nervoso vago ventral, onde a voz é suave, os olhos buscam o do outro com curiosidade e presença. “Você nunca me ouve” pode ser dita com vulnerabilidade e afeto: “Eu sinto que não consigo chegar até você... será que a gente pode conversar de um jeito diferente?”. A frase deixa de ser julgamento e se torna convite. O sistema nervoso, sentindo-se seguro, acessa empatia e flexibilidade. A escuta se torna possível. E o vínculo, reparado.

 

Vejo alguns dos casais que atendo, já cientes que não podem falar qualquer coisa, em qualquer lugar ou a qualquer tempo. Mas, ainda aqui no consultório, trabalhamos intensamente a forma prosódica de como se fala e a forma analítico-sensorial de escutar o corpo do outro. Dois aprendizados que servem para ampliar a consciência de qual estado do sistema nervoso ambos estão. Porque, como viram, perceber o estado em que estamos ao falar (ou ouvir) muda completamente o desfecho de uma conversa. A mesma frase pode afastar ou aproximar, dependendo do tom, do olhar, da energia por trás.


É isso que mais me encanta na Teoria Polivagal, porque ela nos lembra que não existe comunicação sem corpo. Se queremos nos sentir escutados, ou queremos escutar o outro, precisamos estar presentes, de corpo e alma, melhor dizendo, de sistema nervoso e alma.


E esse é o começo de todo amadurecimento compassivo relacional.


E se você chegou na leitura até aqui, convido você a acompanhar essa série de textos que denominei O Corpo Fala, pois estarei trazendo mais na prática desse ensinamento da teoria polivagal que é tão eficiente nos relacionamentos harmoniosos.


E ainda, vá lá na série de textos denominadas Dicionário das Sensações e Dicionário das emoções para ampliar seu vocabulário senso-perceptivo e senso-afetivo.


Por fim, se teve dúvidas ou quer acrescentar algo, sinta-se a vontade para deixar seu comentário. É realmente, com muito prazer que vou respondê-lo.


Cuide-se bem,

Fe




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4 comentários

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Juliana Raíssa
Juliana Raíssa
23 de jul.

Muito bem colocado. A forma como nós expressamos implica muito no nossos relacionamentos. Às vezes não conseguimos demostrar a forma que gostaríamos de expressar correntemente. Sinto dor preciso observar mais e tentar controlar ou melhorar esses impulsos.

Como sempre trazendo belos ensinamentos e salvando partes do nossos seres.

Obrigada

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Fe Matos
Fe Matos
24 de jul.
Respondendo a

Ju querida, adoro seus comentários. Não é fácil sair da vida automática né,... mas quando vamos aprendendo formas de melhorar as trocas relacionais, a gente vai se empoderando também! Te espero terça que vem! Bjim

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Dione Resende
Dione Resende
22 de jul.

Fernanda, que interessante. Acho que é exatamente isso: as 3 pronúncias indicam, respectivamente, abandono, sem esperança; a segunda parece uma acusação; já a terceira, me soa como um convite da pessoa para que seja ouvida - e o interessante é que o tom de voz passa a ideia de que o não-ouvir é uma recorrência.

Eu nunca tinha ouvido sobre a teoria vagal. Já estou lendo a respeito. Obrigada!

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Fe Matos
Fe Matos
24 de jul.
Respondendo a

Dione, que delícia receber seu comentário. Eu sou apaixonada na teoria polivagal. Você sabia que o nervo vago está relacionado com a fibromialgia, doenças autoimunes, enxaqueca, obesidade, entre outros? Estou com um aparelho estimulador do nervo vago, estudando como usa-lo em diferentes situações... papo para outros posts futuros... seja como for, a área da saúde integrada, psicologia e medicina têm muito a crescer juntas. Venha sempre aqui e comente e traga suas experiências e dúvidas! Bjim

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