“Precisamos conversar.”
- Fe Matos
- 16 de set.
- 3 min de leitura
Quando você ouve “precisamos conversar”, qual é a sua primeira reação? Congela, acelera ou respira fundo?
Essa frase, tão comum nos relacionamentos, pode ser entendida como ameaça, crítica ou convite ao vínculo. Tudo depende não só de quem fala, mas também de quem escuta e do estado do sistema nervoso em que cada um se encontra. Vamos explorar como a mesma frase pode se transformar em três diálogos completamente diferentes.
Estado Dorsal Vagal (colapso/congelamento)
📢 Quem fala no dorsal:
A voz sai baixa, quase sem energia, com pausas longas. O corpo encolhido transmite desistência. O sistema nervoso está em colapso: respiração rasa, baixa vitalidade, pouca esperança. Quando diz “precisamos conversar”, soa mais como rendição do que como abertura.
🎧 Quem escuta no dorsal:
Se também está em colapso, pode ouvir a frase como peso ou desistência. Sente-se sem forças para responder, podendo interpretar que “já acabou” ou que não há mais sentido em tentar.
Dois corpos em dorsal criam silêncio e afastamento mútuo. A conversa não começa porque já nasceu morta.
Estado Simpático (luta/fuga)
📢 Quem fala no simpático:
A voz é acelerada, cortante, com tom de cobrança. O corpo vibra em tensão: respiração rápida, olhos fixos, mandíbula dura. O sistema nervoso está em luta ou fuga, acionado pela urgência. “Precisamos conversar” aqui soa como ordem ou cobrança.
🎧Quem escuta no simpático:
Se também está ativado, a frase é recebida como ataque. O corpo responde em defesa: ou contra-ataca (“então fala logo o que é!”) ou tenta fugir (“agora não é hora”).
Dois simpáticos juntos criam campo de batalha:
ninguém ouve de verdade, ambos disputam espaço.
Estado Ventral Vagal (conexão e segurança)
📢Quem fala no ventral:
A voz é serena, clara e acolhedora. O olhar é firme, mas suave. Respiração estável, corpo aberto. O sistema ventral sinaliza presença e cuidado. “Precisamos conversar” se torna um convite, não uma sentença.
🎧Quem escuta no ventral:
Se também está em ventral, sente a frase como segurança. O corpo relaxa, há disponibilidade para ouvir. Surge a sensação de que a conversa será um espaço de encontro, não de ataque.
Dois ventrais juntos encontram terreno fértil para o vínculo
É aqui que o casal amadurecido constrói diálogo verdadeiro.
A frase é a mesma, mas o corpo dá o tom da história. Quando ambos estão em dorsal, o vínculo se apaga. Quando ambos estão em simpático, a guerra começa. E quando ambos estão em ventral, a comunicação floresce. E se ambos estão em estados corporais distintos, somente o que está em ventral terá possibilidade de guiar a conversa. Senão continuará o não diálogo.
A Teoria Polivagal nos lembra: segurança relacional não se cria com palavras, mas com corpos que sinalizam cuidado.
Na minha clínica, acompanhei um casal que tinha essa frase “precisamos conversar” como sinônimo de briga. Ela ouvia em simpático, ele respondia em dorsal, e ambos se perdiam. Trabalhamos em exercícios simples: respirar juntos antes de começar e tocar a mão um do outro para sinalizar presença. Aos poucos, a frase deixou de ser ameaça e se tornou convite.
💡 Duas dicas práticas para sair do simpático ou dorsal e voltar ao ventral:
Enraizamento: apoie bem os pés no chão, respire profundo e sinta o peso do corpo apoiado. Isso sinaliza segurança para o sistema nervoso.
Olhar de presença: antes de falar, encontre o olhar do outro suavemente, sem pressa. O olhar é um dos maiores reguladores de vínculo.
E você? Da próxima vez que disser ou ouvir “precisamos conversar”, perceba em qual estado estará antes falar ou reagir? Experimente observar seu corpo, porque é ele quem dá o tom da conversa.
Quer aumentar seu repertório corporal, assista os outros vídeos da série O corpo Fala, e ainda aprenda mais sobre emoções e sensações na categoria dos Dicionários. E se puder, curte aqui, comenta e compartilha.
Cuide-se bem, Fe
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