Como acompanhar o marido expatriado sem se perder de si
- Fe Matos
- 27 de ago.
- 3 min de leitura
Você disse “sim” para o amor e, junto dele, veio a mudança de país.
As malas ficaram cheias de roupas, documentos e lembranças… mas o coração carregou também dúvidas, silêncios e um medo que quase não se fala em voz alta: como não me perder de mim nessa travessia?
Muitas mulheres expatriadas se veem nesse dilema. Acompanhar o marido é, ao mesmo tempo, um gesto de amor e um desafio de identidade. É fácil, sem perceber, deslizar para o lugar de coadjuvante da própria vida.
Mas você não é figurante. Você é protagonista.
Estar ao lado dele não significa estar atrás. Significa caminhar junto. E caminhar junto também pede espaço para os seus passos, para os seus sonhos, para a sua voz.
Talvez agora o idioma te confunda, a solidão te visite ou a sensação de “não ter lugar” te assuste. Tudo isso é humano. Mas há algo que pode sustentar você nesse começo: lembrar-se diariamente de quem você é, antes mesmo de ser esposa, antes de ser expatriada. Você é mulher inteira, com histórias, talentos e desejos que não precisam caber apenas na bagagem dele.
Certa vez, recebi em meu consultório uma paciente que já estava expatriada havia alguns meses. Ela me disse, com os olhos marejados, que não se reconhecia mais: “Sinto como se tivesse perdido o meu nome. Aqui eu sou apenas a esposa de alguém”.
Naquele momento, ela beirava a depressão. Sentia-se deslocada, isolada, e carregava a culpa de não estar feliz mesmo tendo “uma vida que parecia perfeita aos olhos dos outros”. O que trabalhamos juntas foi a reconstrução de sua autoestima. Voltamos ao passado, revisitando sonhos que ela havia deixado em suspenso. A partir dali, criamos uma estratégia de planejamento profissional a médio prazo que a ajudou a sentir-se novamente autora de sua história. Pouco a pouco, ela foi voltando a se enxergar como mulher, não apenas como acompanhante.
Essa história ecoa em tantas outras mulheres expatriadas que atendo: mulheres inteligentes, sensíveis, mas que, ao atravessarem o mar, acabam se afastando de si mesmas.
O desafio não é apenas mudar de país é manter viva a chama do próprio ser.
Três sugestões para você que acompanha o marido expatriado e não quer se perder de si mesma:
Cultive sua rede de apoio - Não subestime o poder de ter alguém para conversar. Seja um grupo de brasileiras, uma comunidade local ou mesmo um espaço terapêutico online, permita-se pertencer a mais de um lugar.
Resgate seus sonhos antigos - Pergunte-se: “O que eu gostava de fazer antes de vir para cá?” Retomar um curso, um projeto, um hobby pode ser o primeiro passo para redesenhar o seu futuro.
Planeje seu caminho - Mesmo que não seja imediato, trace metas realistas para construir algo seu, seja profissional, acadêmico ou artístico. Ter um horizonte pessoal ajuda a manter a autoestima viva.
A expatriação pode parecer um corte, mas também pode ser um recomeço fértil. Ela pode ser uma travessia transformadora. A chave é não se esquecer de que, mesmo caminhando ao lado de alguém, você continua sendo dona da sua vida. Permita-se criar novas rotinas, procurar redes de apoio, explorar interesses que te conectem consigo mesma. No fim, acompanhar pode ser também se acompanhar.
Não é sobre escolher entre ele ou você.
É sobre aprender a existir no “nós” sem apagar o “eu”.
Cuide-se bem, Fe.












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